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Na terra dos Apaches

Por em Out.12, 2011, Categoria Cultura, Mercado

Na minha infância, incursões ao centro da cidade eram momentos inesquecíveis. Sempre voltava desses passeios com um presente ou uma forte promessa de ganhar alguma coisa em um “outro dia”. Era praxe uma passada no Mappin, setor de brinquedos. Ia lá para babar nos autoramas, carrinhos a motor, bicicletas de marcha e outras possibilidades de diversão inalcançáveis. Anos depois passei a frequentar o setor de instrumentos musicais, mas esse episódio fica para uma outra vez.

Foi ali, no Mappin da Praça Ramos de Azevedo, que depois de muita insistência e mais um crediário bancado pela Vó Ângela, levei vitorioso para casa o tão almejado Forte Apache. Aquele ano prometia. Era Dia das Crianças e já havia conquistado um brinquedo daqueles? Imagine o que Papai Noel estava preparando.

Cheguei em casa, liguei a TV no Rim Tim Tim e, do meu lado da telinha mostrei ao Cabo Rusty – o menino órfão adotado pela pela cavalaria norte-americana – que eu também poderia ser um integrante do exército yankee. Já tinha meu forte e começaria imediatamente uma briga sem tréguas com os índios inimigos.

Quanto sonho. Quantos amiguinhos para compartilhar desse sonho. Naquele momento o dono da bola, melhor dizendo, do Forte Apache, era eu. E como a gente ganha amiguinho nessa hora né?

O tempo passou, o mimo foi devidamente aposentado. A compreensão das atrocidades perpretadas contra os índios – os nossos e os alheios -, o horror que tenho a brinquedos que incitem à violência e o próprio entendimento dos objetivos ideológicos daquilo que via, ouvia ou brincava em tempos de Guerra Fria, me fez reavaliar os meus gostos. Mas, como diria Belchior, “deixando a profundidade de lado”, o que ficou dessa história e de tantas outras foi uma infância feliz.

Como gostaria que as crianças largassem um pouco seus previsíveis videogames e voltassem a colocar a imaginação para funcionar. Que saíssem um pouco das nossas ilhas cibernéticas, voltando a brincar com jogos que agregam pessoas. Acho que os pais vêm acordando para este fato, estimulando os filhos a dividir melhor seu tempo entre as traquitanas eletrônicas e as pessoas de carne e osso, aquelas mesmas que inventam essas traquitanas. Afinal, o que elas terão um dia para contar? O que aprendem matando mais inimigos que o outro nickname que joga em rede e que, provavelmente, nunca passará de um companheiro virtual?

Nesse Dia das Crianças desejo a cada menino e menina desse planeta, devidamente abençoados por Nossa Senhora da Aparecida, que daqui a 20, 30 anos elas possam olhar para trás e lembrar, como faço agora, de um brinquedo, que só foi uma desculpa para ter ao lado quem faz a vida ter sentido: nós, seres humanos.

Fernando Brengel

Dedico esse texto aos meus familiares, especialmente aos meus saudosos avós Aquiles e Ângela, que tudo fizeram para estimular meus sonhos.

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