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Há um ano as ideias perderam o acento, mas não o poder de surpreender

Por em Jan.26, 2010, Categoria Cultura

Eis que algum iluminado teve uma grande ideia, um Novo Acordo Ortográfico, que unificasse a forma de escrever dos países lusófonos. “Bravo!” bradaram uns,  justificando que dessa forma o português manteria uma identidade consistente fosse onde fosse empregado. “Vamos com calma!” alertaram outros. E a cultura, que dá sentido ao idioma? Como se refletirá nos fenômenos linguísticos locais? Fora isso, o português é uma língua viva e é natural admitir nuances que, no final das contas, são extremamente benéficas e enriquecedoras, completaram.

Bem, como o time dos iluminados sempre ganha, formou-se uma comissão que, à beira do esquecimento, ressurgiu com força total, lançando seu grito de vitória: “o Novo Acordo sairá de qualquer jeito”. E saiu. Nesse janeiro de 2010 completa um ano em vigor.

Entre as várias más notícias que acompanham o Novo Acordo, a primeira é que o Brasil o adotou sem que a forma minimamente correta de escrever tenha sido absorvida pela massa “letrada” do país. É só perguntar se voo, enjoo e abençoo levavam anteriormente acento circunflexo (chapeuzinho para os menos íntimos) e confirmar que demos um passo sem que o outro estivesse consolidado, ou seja, tropeçamos.

Uma das piores invenções deste remendo ortográfico macula justamente o que há de mais sagrado para a publicidade, a ideia. Sim, porque ideia, assim como palavras paroxítonas com ditongo aberto perderam o acento agudo.

Infelizmente, ideia sem acento é ideia menor, envergonhada, que definitivamente não se impõe. Ao longo do tempo, as palavras escritas se refletirão na pronúncia e será assim, de ideia em ideia falada para dentro, que o nosso mundo caminhará. Nós que precisamos de ideias superlativas, fortes o suficiente para enfrentar o aquecimento global, as desigualdades sociais, as doenças, a violência, a concorrência agora devemos nos acostumar com ideias meia boca.

Paciência, se tiraram o acento que fazia as ideias terem a força que precisam ter, pelo menos não mexeram na criatividade, a mãe de todas as ideias. Essa continua intacta, surpreendendo, driblando aqueles que em nada contribuem para torná-la melhor, mas às vezes parecem trabalhar para empalidecer seu brilho.

Fernando Brengel

Redator e Diretor de Criação da Presença Propaganda é um amante de idéias com acento.

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